sexta-feira, 23 de abril de 2021

A GUERRA DO VIETNÃ - QUE GUERRA FOI ESSA?


Publicada originalmente em 30 de abril de 2011 e vista por 4.560 pessoas.
Este ano, faz 46 anos do fim da Guerra do Vietnã (ou Vietname, ou Vietnam, ou ainda, segundo os vietnamitas, Guerra Americana), que foi um dos mais sangrentos conflitos armados depois da 2ª guerra mundial. Começou em 1959 e terminou em 30 de abril de1975. As batalhas ocorreram nos territórios do Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Laos e Camboja.
O Vietnã havia sido colônia francesa e no final da Guerra da Indochina (1946-1954) foi dividido em dois países. O Vietnã do Norte era comandado por Ho Chi Minh, possuindo orientação comunista pró União Soviética. O Vietnã do Sul, uma ditadura militar, passou a ser aliado dos Estados Unidos e, portanto, com um sistema capitalista. A relação entre os dois Vietnãs, em função das divergências políticas e ideológicas, era tensa no final da década de 1950. Em 1959, vietcongues (guerrilheiros comunistas), com apoio de Ho Chi Minh e dos soviéticos, atacaram uma base norte-americana no Vietnã do Sul. Este fato deu início a guerra.

Entre 1959 e 1964, o conflito restringiu-se apenas ao Vietnã do Norte e do Sul, embora Estados Unidos e também a União Soviética prestassem apoio indireto. Em 1964, os Estados Unidos resolveram entrar diretamente no conflito, enviando soldados e armamentos de guerra. Os soldados norte-americanos sofreram num território marcado por florestas tropicais fechadas e grande quantidade de chuvas. Os vietcongues utilizaram táticas de guerrilha, enquanto os norte-americanos empenharam-se no uso de armamentos modernos, helicópteros e outros recursos.
No final da década de 1960, era claro o fracasso da intervenção norte-americana. Mesmo com tecnologia avançada, não conseguiam vencer a experiência dos vietcongues. Para piorar a situação dos Estados Unidos, em 1968, o exército norte-vietnamita invadiu o Vietnã do Sul, tomando a embaixada dos Estados Unidos em Saigon. O Vietnã do Sul e os Estados Unidos responderam com toda força. Foi o momento mais sangrento da guerra. No começo da década de 1970, os protestos contra a guerra aconteciam em grande quantidade nos Estados Unidos e na Europa. Jovens, grupos pacifistas e a população em geral iam para as ruas pedir a saída dos Estados Unidos do conflito e o retorno imediato das tropas. Neste momento, já eram milhares os soldados norte-americanos mortos. A televisão mostrava as cenas violentas e cruéis da guerra.

Sem apoio popular e com derrotas seguidas, o governo norte-americano aceitou o Acordo de Paris, que previa o cessar-fogo em 1973. Em 1975, ocorreu a retirada total das tropas norte-americanas. Foi a vitória do Vietnã do Norte. O conflito deixou mais de 1 milhão de mortos (civis e militares) e o dobro de mutilados e feridos. A guerra arrasou muitas vidas, campos agrícolas, destruiu casas, vilas inteiras e provocou prejuízos econômicos gravíssimos no Vietnã, que foi reunificado em 2 de julho de 1976 sob o regime comunista, aliado da União Soviética. Travada com uma grande cobertura diária dos meios de comunicação, a guerra levou a uma forte oposição e divisão da sociedade norte-americana, que gerou os Acordos de Paz de Paris em 1973, causando a retirada das tropas do país do conflito. Ela prosseguiu com a luta entre o norte e o sul do Vietnã dividido, terminando em abril de 1975, com a invasão e ocupação comunista de Saigon, então a capital do Vietnã do Sul e a rendição total do exército sul-vietnamita. Para os Estados Unidos, a Guerra do Vietnã resultou na maior confrontação armada em que o país já se viu envolvido, e a derrota provocou a 'Síndrome do Vietnã' em seus cidadãos e sua sociedade, causando profundos reflexos na sua cultura, na indústria cinematográfica e grande mudança na sua política exterior, até a eleição de Ronald Reagan, em 1980.

A MENINA QUE SOBREVIVEU AO MASSACRE
Na imagem, a menina sempre vai ter 9 anos e gritará "Muito quente! Muito quente" ao fugir correndo nua de um vilarejo vietnamita com partes do corpo cobertas por Napalm (potente arma química composta por um conjunto de líquidos inflamáveis à base de gasolina gelificada, utilizados como armamento militar). Ela sempre será uma vítima sem nome. No entanto, Kim Phuc, a menina sem nome, passou grande parte de sua vida tentando não se tornar vítima da imagem que a tornou famosa mundialmente, ainda que pouquíssimas pessoas soubessem quem ela realmente era. Bastou apenas um segundo para o fotógrafo da AP Huynh Cong registrar a imagem, uma das mais importantes da história do fotojornalismo mundial. Uma imagem que comoveu o mundo e ajudou a dar fim à Guerra do Vietnã. Apesar da relevância histórica de sua presença, Phuc diz que "realmente gostaria de escapar daquela pequena menina, mas parece que aquela imagem nunca me deixou ir", diz a vietnamita. Em entrevista a agência AP, Phuc conta que viveu uma vida relativamente normal após os 13 meses que passou no hospital, apesar de ainda ser afetada por dores de cabeça e em outras partes do corpo, efeitos colaterais do ataque ao vilarejo vietnamita em que morava em 8 de junho de 1972.

No entanto, após conseguir chegar à faculdade de medicina, ela foi forçada a deixar os estudos, retornar a Trang Bang e se tornar uma garota propaganda do governo comunista que controla o país desde o fim da guerra. Sob os olhares do Exército, ela se encontrava com jornalistas, lia uma versão roteirizada de sua história, ria e cumpria o seu papel, mas a raiva crescia em seu coração.

"Eu fui queimada por napalm, me tornei uma vítima de guerra. Mas ao crescer, eu me tornei outro tipo vítima. Meu coração era exatamente como uma xícara de café preto. Eu desejava ter morrido com meu primo no ataque, com os soldados sul-vietnamitas. Era muito difícil carregar aquele fardo com aquele ódio, aquela raiva e amargura", diz Phuc. Um dia, durante uma visita a uma biblioteca, Phuc começou a ler a Bíblia. A partir daí, ela diz que sua vida deu uma nova guinada. Com o auxílio de um jornalista estrangeiro, ela foi levada à Alemanha Ocidental para receber tratamento médico em 1982. Posteriormente, o governo vietnamita deu permissão a ela para estudar em Cuba. Lá, no entanto, ela seguia sendo a "Menina do Napalm", um ícone que atraía o interesse da mídia internacional. Na escola, ela encontrou o seu futuro marido, Bui Huy Toan. Phuc acreditava que ninguém ia se apaixonar por ela por causa de suas horríveis cicatrizes nos braços e costas, mas ele aparentemente a amava ainda mais por isso. Os dois se casaram em 1992 e passaram a lua-de-mel em Moscou. No voo de volta, os recém-casados desertaram durante uma parada para reabastecimento e se refugiaram no Canadá. Ela finalmente conseguia sua liberdade. Uma das primeiras coisas que fez após se estabelecer no Canadá foi contatar Huynh Cong, o fotógrafo de sua clássica imagem, a quem reencontrara em Cuba em 1989, e que a encorajou a compartilhar sua história com o mundo. Mas ela estava cansada de entrevistas e de posar para fotos. "Eu tenho um marido, uma nova vida e quero ser normal como todo mundo". A mídia enfim a encontrou vivendo nos arredores de Toronto, mas dessa vez ela decidiu assumir o controle de sua história.

Um livro sobre sua vida lançado em 1999, assim como um documentário posterior, contavam a sua versão. Desde então, ela foi chamada para ser uma embaixadora da boa-vontade das Nações Unidas e se reencontrou com Huynh Cong várias vezes. Após quatro décadas e dois filhos, Phuc finalmente conseguiu olhar para a imagem da menina correndo nua e abraçar o poderoso significado que ela passa. "A maioria das pessoas conhece a imagem, mas muito poucos sabem sobre a minha vida. Eu sou muito agradecida por poder aceitar a foto como um presente poderoso. Agora é minha escolha, posso trabalhar com ela pela paz".

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