Publicada originalmente em 27 de março de 2013.
“Eles adoravam tudo que fosse novidade, como skates e karts”. Diz o fotógrafo que conviveu com os Beatles entre 1964 e 1969, e lançou em 2012 “Places I remember: My Time With the Beatles” - Lugares de que me lembro: meu tempo com os Beatles. Henry Grossman realizou o sonho de qualquer beatlemaníaco. Nos anos em que os acompanhou, fez mais de 6000 imagens dos quatros rostos mais famosos do planeta. Uma grande parte dessas fotos (a maioria nunca vistas) foi selecionada para o livro, que foi lançado em edição limitada, numerada e assinada pelo fotógrafo.
Grossman nasceu em Nova York e aprendeu o ofício com o pai que fotografou personalidades como Gandhi, Einstein, Mussolini, e descobriu os elementos-chave do retrato clássico – especialmente a interação entre a luz e sombra.
Trabalhou para a revista Life, The New York Times, Time, Newsweek, Paris-Match entre outros. Por suas lentes passaram figuras políticas (os três irmãos Kennedy, Lyndon Johnson, Richard Nixon), pintores, escultores e escritores (Alexander Calder, Kurt Vonnegut, Vladimir Nabokov) e, especialmente artistas (Elizabeth Taylor, Richard Burton, Martha Graham, Nureyev, Leonard Bernstein, Luciano Pavarotti, Plácido Domingos, Barbra Streisand, Thelonious Monk).
Em seu livro, Grossman diz que conseguiu fotografar tão intimamente os Beatles, porque após um longo período de convivência, os quatro se acostumaram com sua presença. Cobriu a primeira aparição dos rapazes de Liverpool no Ed Sullivan Show, acompanhou as filmagens do filme “Help”, documentou uma noite de gravação do álbum “Sgt. Pepper’s” nos estúdios de Abbey Road e ainda frequentou as casas de todos para fotografá-los informalmente com seus amigos e famílias.
Entre os anos de 1964 e 1969, Grossman teve acesso quase que exclusivo à intimidade dos Beatles. Depois de conhecê-los nos nos bastidores do histórico show de Ed Sullivan, tornou-se amigo dos Fab Fou e contratado para retratar os bastidores de “Help!”. Daí em diante, não parou de fotografar os Beatles. Em casa, com família e amigos, no estúdio, tomando café da manhã, jogando pôquer, descansando na piscina, dormindo ou fazendo nada.
Um pouco mais velho que John, Paul, George e Ringo, Grossman gostava mais deles do que de sua música. “Eu não entendia de rock, preferia música clássica, talvez isso tenha ajudado a criar um vínculo – por que os Beatles precisariam de mais um puxa-saco repetindo que eles eram gênios?”, diz ele.
Foram mais de 6 mil fotografias dos Beatles, a grande maioria descartadas – até o lançamento de “Places I remember”, um livro de 528 páginas. É um calhamaço que pesa 6 quilos e custava na época do lançamento (2012) 495 dólares e uma cópia autografada 795.
“Eles estavam acostumados a me ver com a câmera, documentando tudo o que acontecia ao redor. Mais do que qualquer coisa, eu me tornei um amigo. Então, quando ia fotografar, ninguém pensava duas vezes. Ninguém se importava. Não era visto como invasivo”.
As fotos são de uma era bem anterior à nossa, em que popstars e celebridades de segunda linha fazem poses ridículas para revistas idiotas, 'abrindo' suas casas de maneira falsa e patética. Para quem gosta de retratos, o livro de Grossman é uma aula. Para quem gosta dos Beatles, é mais um motivo para folhear, colocar tudo de novo para tocar e lembrar que eles, antes de qualquer coisa, foram quatro jovens amigos que se divertiram muito na companhia uns dos outros – enquanto trabalhavam, ficavam ricos e se tornavam, ainda sem saber ao certo, a maior banda de todos os tempos. Henry Grossman deve estar com 85 anos.
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