Planocritico.com - por RITTER FAN
Elvis Presley não foi apenas um ícone do rock. Durante sua ilustre carreira, ele pediu para Richard Nixon um distintivo da divisão de combate aos narcóticos, apaixonou-se pelo caratê durante o serviço militar e dedicou-se tanto à arte marcial que alcançou o 8º dan da faixa preta e teve um chimpanzé chamado Scatter que gostava de beber e de dar sustos em todo mundo em Graceland. Esses três fatos menos conhecidos sobre o cantor e ator são certamente mais estranhos que a ficção e muito me espanta que uma série como Agente Elvis, galgada neles, não tenha sido produzida antes, mas aqui ela está.
Na história, Elvis é Elvis (voz de Matthew McConaughey). O Rei do Rock, sem dúvida, mas também alguém que usa suas habilidades – e Scatter, claro – para lutar contra o crime como um vigilante, até que a misteriosa e secretíssima organização OGC – O Gabinete Central – tenta recrutá-lo, primeiro por intermédio da bela agente CeCe (Kaitlin Olson) e, depois, por seu líder, chamado apenas de Comandante (Don Cheadle). Usando diversos elementos tirados diretamente da vida de Elvis Presley para além dos três citados, além de uma série de situações reais que ocorreram ao longo dos anos 70, a série é uma divertidíssima sucessão de momentos de extrema violência protagonizada por homens, mulheres e símios, uso extensivo de drogas (especialmente por símios) e uma boa dose de escatologia. Em outras palavras, o espectador tem que estar no espírito correto para apreciar Agente Elvis.
Tanto o estilo de animação quanto o uso de violência, palavreado de baixo calão, situações absurdas, drogas e assim por diante lembra muito – mas muito mesmo – a ótima série animada Black Dynamite, por sua vez derivada do filme homônimo de 2009 estrelado por Michael Jai White. Agente Elvis não tem, talvez, a mesma coragem de apostar todas as suas fichas em roteiros completamente enlouquecidos, intensos e quase explícitos de Black Dynamite, mas faz esforço para chegar bem próximo, diferenciando-se, claro, por seu protagonista ser Elvis Presley, uma figura tão icônica que tem atração própria, com McConaughey, carregando no sotaque sulista cantado, arrebentando no trabalho de voz.
Talvez por ter sido co-criada por ninguém menos do que a própria Priscilla Presley – que empresta sua voz para sua versão animada na série -, exista um natural “freio” criativo. Por exemplo, apesar de haver menção ao quanto Elvis enlouquece as mulheres, a narrativa passa bem longe de ele ter qualquer caso extraconjungal ou mesmo um semblante disso, ainda que, em diversos momentos, fique evidente o distanciamento entre ele e a esposa. Mas creio que isso faça parte do jogo, e o que não faltam são outros elementos para colorir muito a vida de agente secreto do Rei do Rock, seja a presença constante de um mais do que completamente enlouquecido Scatter (Tom Kenny), o melhor amigo de Elvis, Bobby Ray (Johnny Knoxville), um personagem-amálgama de diversas pessoas que povoaram a vida do cantor, um hilariamente insano Howard Hughes (Jason Mantzoukas), também da OGC, e, claro, de CeCe, a “espiã gostosa” que foge a todos os estereótipos do gênero.
O que poderia facilmente ser uma série de 10 episódios composta de “casos da semana” é, na verdade, uma interessante – ainda que não particularmente sensacional – narrativa única que envolve o OGC, um inimigo secreto e um passado misterioso de Elvis que nem ele conhece, tudo ao redor de uma arma sônica capaz de transformar as pessoas em assassinos furiosos. O uso de uma variedade de pessoas reais – Charles Manson (Fred Armisen), Stanley Kubrick (Dee Bradley Baker), Robert Goulet (Ed Helms), Timothy Leary (Chris Elliott), Richard Nixon (Gary Coyle) etc. – é outra característica muito bem vinda que adiciona elementos relacionáveis (ou odiáveis) em contextos de época perfeitos, bastando notar como Kubrick, por exemplo, aparece filmando, em um galpão cinematográfico, o pouso na Lua.
O resultado é uma série animada completamente descompromissada e repleta de deliciosos exageros para quem gostar do estilo “tiro, porrada, bomba, drogas e escatologia” embalada por uma ótima trilha sonora de época que, porém, não se limita a Elvis Presley (é hilário como CeCe detesta Elvis e prefere The Doors). Se Elvis ganhou uma cinebiografia respeitosa por Baz Luhrmann, ele, agora, ganha uma série ficcional (mas com algum pé na realidade) de que, não tenho dúvida, ele teria muito orgulho!
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