sexta-feira, 22 de março de 2019

RAUL SEIXAS E MARCELO NOVA - A PANELA DO DIABO - CLÁSSICO!**********

Um abraço especial para o Roque22.
Fonte: MOFO - beatrix.pro.br

A Panela do Diabo é um disco histórico por vários motivos: foi o último LP de Raul Seixas e lançado dois dias antes de se falecimento, ocorrido no dia 21 de agosto de 1989; foi o único trabalho que Raul dividiu com alguém; e juntou duas gerações de roqueiros baianos: Raul Seixas, o maior nome do rock brasileiro, dono de uma carreira brilhante e cheia de acidentes pessoais, e Marcelo Nova, ex-líder do Camisa de Vênus e que começava uma carreira-solo, ao lado da banda Envergadura Moral. Uma parceria que rendeu 50 shows, uma dezena de composições e um disco que já nasceu clássico. A parceria de Raul Seixas e Marcelo Nova pode ser considerada uma das mais importantes e emotivas na história do rock. Era o encontro do ídolo, já extremamente doente, enfrentando problemas com alcoolismo, diabates, e um fã apaixonado por toda sua obra e que, quando adolescente, assistia Raul Seixas nos teatros de Salvador, comandando a banda Raulzito e os Panteras.Em entrevista ao jornalista Luís Claudio Garrido, à Revista Bizz, publicada em dezembro de 1989, Marcelo Nova relembra como nasceu a parceria que resultou em 50 shows e no disco A Panela do Diabo. "Foi por etapas. Primeiro, eu ia aos shows dele na Bahia - na época de Raulzito e Seus Panteras - e, depois das apresentações, ia até o palco apertar a mão dele. Ele nem me conhecia. Muito tempo depois, o Camisa de Vênus estava tocando no Circo Voador e ele foi ver. Chamei Raul para o palco e nós tocamos, na base do improviso, um medley de rock´n´roll, misturando 'Long Tall Sally' com 'Be-Bop-A-Lu-La' e 'Tutti Frutti'. Eu estava tão emocionado que não conseguia cantar nada, só ficava olhando. Depois disso, em 1984, fui ver o último espetáculo dele em São Paulo, numa danceteria que chamava Raio Laser. Quando terminou fui cumprimentá-lo, e nos aproximamos, trocando endereços. Para minha surpresa, num domingo, às 11 horas da manhã, Raul, Tony Osanah e suas respectivas esposas batem na minha porta. Eu fiquei assim, sem acreditar. Em 1986, o Camisa gravou "Ouro de Tolo". No ano seguinte, a gente já se freqüentava mais e fizemos "Muita Estrela, Pouca Constelação" - eu compus a letra e ele, a música. Aí não parou mais, até chegar setembro do ano passado, quando ele teve mais uma crise de saúde e estava em condições financeiras muito ruins, pelo fato de estar há cinco anos sem trabalhar. Eu o convidei para fazer uma apresentação na Bahia. Ele gostou do resultado, eu também, e combinamos de fazer mais dois ou três espetáculos, que acabaram virando cinqüenta".
Marcelo Nova estava no auge da carreira com o Camisa de Vênus. Em 1986, a banda havia lançado o disco Correndo o Risco, com mais de 300 mil cópias vendidas, graças aos sucessos "Simca Chambord", "Só o Fim" e "Deus me Dê Grana", além de uma versão de "Ouro de Tolo", de Raul. No ano seguinte, lançaram o disco Duplo Sentido, um álbum duplo e que trazia o sucesso "Muita Estrela, Pouca Constelação", primeira composição da parceria Raul e Marcelo. O álbum teria uma vendagem bem mais modesta - cerca de 40 mil cópias - e decretaria o fim do grupo, ao menos, até 1996. Após o fim do Camisa de Vênus, Marcelo Nova iniciou uma carreira-solo, com a Envergadura Moral - Johnny Chaves (teclados), Carlos Alberto Calasans (baixo), Gustavo Mullem (guitarra) e Franklin Paollilo (bateria).
Os shows mostravam uma realidade aterradora: inchado, sem forças e bebendo sem parar, Raul Seixas era apenas uma sombra do que havia sido. Há três anos sem subir num palco, Raul mostrava-se completamente esgotado, aos 44 anos, contrastando com a energia ilimitada de Nova, sete anos mais novo. Após 50 shows realizados, André Midani, chefe da WEA, os convidou para lançar um disco. Imediatamente, os dois se trancaram em estúdio e começaram a dar vida às músicas que já vinham escrevendo. A Panela do Diabo é um disco simples de rock and roll, simples, direto, feito com coração, com rock e momentos mais leves. Um álbum com temas pesados, mas tratados com ironia e acidez, uma marca comum entre Raul e Marcelo Nova. O trabalho trazia 11 músicas, incluindo o sucesso "Carpinteiro do Universo", que puxou as vendagens do álbum, superiores a 150 mil cópias e que rendeu um disco de ouro.Tragicamente, o LP foi lançado no dia 19 de agosto de 1989, dois dias antes da morte de Raul, encontrado morto, em sua cama, no apartamento que residia em São Paulo. As composições eram feitas como uma verdadeira dupla, com cada um opinando na letra ou na música do outro. Segundo Marcelo Nova na mesma entrevista, "foi um trabalho feito em parceria mesmo. Eu o definiria como um disco de rock'n'roll. Dois homens de meia-idade não poderiam fazer de conta a esta altura do campeonato. Por isso, a gente decidiu abrir o disco cantando 'Be-Bop-A-Lu-La', um rock dos anos 50, que era para ninguém ter dúvida quanto à nossa intenção".
Passados quase 30 anos do lançamento, o disco se encontra fora de catálogo tanto em LP ou CD, como manda a maldita lei da indústria fonográfica brasileira que privilegia o comercialismo vulgar e burro, relegando aos sebos e colecionadores obras como esta. A busca, talvez, torne o disco ainda mais interessante de ser ouvido e digerido. Depois de todos esses anos, Raul Seixas segue sem substitutos. Marcelo Nova ainda está vivo e segue sua carreira. A Panela do Diabo é um disco fiel às origens dos dois e um belo exemplo de rock clássico brasileiro. Que venha uma reedição. Urgentemente.

6 comentários:

Edu disse...

Clássico já nasce clássico! Eu já "curtia" Raul Seixas mesmo antes de gostar dos Beatles e tenho, senão todos, pelo menos os da discografia oficial. Na noite de 13 de agosto de 1989, Raul Seixas, ao lado de Marcelo Nova, subiu ao palco do Ginásio Nilson Nelson, aqui em Brasília, para dar continuidade à turnê de 50 shows do disco A Panela do diabo. Foi a última vez que os fãs puderam ver uma apresentação do músico e eu estava lá! Ainda tenho meu ingresso até hoje, que colei no verso da capa do meu disco. Sensacional!

HÉTEL STEFANHUCK disse...

Que demais heim! Realmente tu és priveligiado Edu ,por ter vivenciado essa parte da história "show do Grande Raulzito".......sem mais palavras....

Edu disse...

😉😉😉😉

roque22 disse...

Estive em um dos 50 shows desta turnê (em Salvador). Comprei este disco, logo ao ser lançado. Lembro que durante o ano de 77, passava todos os finais de semana na casa de um amigo, escutando Beatles (principalmente a coleção rara de compactos) e os discos dos Mestres Raul e Dylan. Parabéns Edu pela matériae vida Longa a Marceleza. "This is rock'nroll...the real one".

Dani disse...

Baixei esse álbum uns anos atrás. Muito bom! Eu só comecei a ouvir Raul mesmo nos anos 1990. Antes disso ou até sua morte eu só conhecia Pluct Plact Zum e Cowboy Fora da Lei, infelizmente☹️

Unknown disse...

Raul e macelo não tem igual esses caras q saldade😧😧