THE BEATLES - HELTER SKELTER - A MAIS PESADA DE TODAS!*****

E por último, não por acaso, "Helter Skelter" - a música mais pesada já gravada pelos Beatles. É um clássico, mas está longe de ser uma das minhas preferidas do Álbum Branco ou da carreira dos Beatles. É conhecida mundialmente por ser a primeira peça de Hard Rock/Heavy Metal da história da música. A última vez que "Helter Skelter" apareceu aqui no Baú, foi em 15 de junho de 2016.
Helter skelter é o nome de um brinquedo britânico muito popular, que consiste em um tobogã gigante em formato de espiral no qual se desce sobre um tapete, de modo furioso e assustador, em velocidade arriscada, do topo até a base. Então a analogia com trepar com uma garota que está vindo rápido, e a quem ele poderia quebrar, é logo entendida como uma alusão sexual. O uso de “helter skelter" com o sentido de precipitadamente ou atabalhoadamente na verdade era comum bem antes de surgir o brinquedo. A letra pode parecer sem muito sentido para tantos autores e críticos incautos que achavam que era sobre o brinquedo. Tanto a letra como a música soam altamente sexuais, e bastante frenéticas quanto a isso.

Paul McCartney estava lendo uma edição de 1967 da Melody Maker, revista especializada em música, quando viu uma entrevista do guitarrista Pete Townshend, dizendo que o último single "I Can See For Miles", era a canção mais alta, suja e barulhenta que o The Who já tinha feito. Quando Paul ouviu, achou que não era tão barulhenta assim. Ele julgou como sendo um "barulho organizado", e tratou de compor a canção mais "suja" - no sentido de ruído - e pesada da música pop conhecida até então.
Nos Estados Unidos, o termo "helter skelter" não é muito conhecido. Charles Manson, dizia que a música "Helter Skelter" fazia profecias de uma apocalíptica guerra racial. No "Anthology" Paul disse: "Manson nos interpretou como ‘os quatro cavaleiros do Apocalipse.’ Eu ainda não entendo qual foi a jogada; é sobre a Bíblia, Revelação – Eu não li então eu não sei. Mas ele interpretou a coisa toda. Nós éramos os cavaleiros, Helter Skelter era a mensagem, e ele achou que podia sair e matar todos por aí".
Entre os dias 9 de agosto e 10 de agosto de 1969, a "Família Manson" cometeu duas chacinas em Hollywood e escreveu nas paredes "Helter Skelter" com o sangue das vítimas. Durante o julgamento de seus crimes, em novembro de 1970, Charles Manson explicou sua interpretação de "Helter Skelter" na corte: "Helter Skelter significa confusão. Literalmente. Não significa Guerra com ninguém. Não significa que eles irão matar outras pessoas. Apenas significa o que significa. Helter Skelter é confusão. Confusão está vindo rápido. Se você não vê que a confusão está vindo rápido, chame do que quiser. Não é minha conspiração, não é minha música. Eu escuto o que relato. Ela diz, ‘Apareça!’ ela diz, ‘Mate!’ Porque me culpar? Eu não escrevi a música. Eu não fui a pessoa que projetou isso na consciência das pessoas".
John disse em entrevista para a Rolling Stone em 1970: "Costumávamos tirar sarro disso ou daquilo, de uma maneira não ofensiva, do que um intelectual via na gente ou um símbolo da geração jovem veria algo nisso… mas eu não sei o que ‘Helter Skelter’ significava, pra mim era só barulho". Os Beatles gravaram a música que exigiu 52 tomadas durante o mês de julho. Uma versão chegou a durar mais de 27 minutos, apesar de ser lenta e hipnótica, diferenciando muito da força da música como conhecemos. Outra versão de 4:37 foi editada para o Anthology 3, que originalmente era 20 minutos mais longa. Em 9 de setembro, após a volta de Ringo às baquetas, foram feitos ainda mais 8 takes de 5 minutos aproximadamente e o último é a base do LP original.

Paul McCartney, no livro "Many Years From Now" de Barry Miles, diz: "Tínhamos os engenheiros e George Martin tentando fazer o som da bateria parecer mais alto que pudesse. Então a gente tocava e dizíamos, ‘não, ainda parece limpo, tem que ficar mais alto e sujo.’ Tentamos tudo que podíamos para sujar o som, então Ringo tocou o mais forte e feroz que podia. Trabalhamos muito duro naquela música".

Depois de dezenas de takes, Ringo Starr que já não aguentava mais tocar a bateria daquela maneira selvagem, atirou as baquetas para longe e gritou ferozmente: "I've got blisters on my fingers!" (eu estou com bolhas no dedos!) e os Beatles incluíram isso no final da música.
Segundo Ringo diz no "Anthology", "Helter Skelter foi uma faixa que fizemos completamente loucos e histéricos no estúdio. Às vezes é preciso dar uma sacudida nos ensaios e foi o caso daquela música – com o baixo de Paul e minha bateria – Paul começou a berrar e gritar, o que acabou ganhando mais espaço". Helter Skelter dividiu o público e a crítica. Richie Unterberger da Allmusic chamou de "uma das mais afiadas e mais brutais canções de rock já feito, extraordinário!" Enquanto Ian MacDonald a chamava de "Ridícula, um McCartney chapado contra um fundo massivo de fitas distorcidas e lixo barulhento". Em março de 2005, a Q magazine nomeou "Helter Skelter" a número 5 na lista das 100 melhores canções de guitarra. Vincent Bugliosi, advogado que liderou a acusação de Manson e seus seguidores, nomeou seu livro mais vendido de Helter Skelter, no qual conta a toda a história do caso Manson. O livro já foi base para dois filmes e filmes com esse mesmo título. Na sessão de 9 de setembro de 1968, o co-produtor Chris Thomas recorda de George Harrison ateando fogo em um cinzeiro e correndo ao redor do estúdio com ele sobre a cabeça, numa alusão ao cantor Arthur Brown enquanto McCartney gravava os vocais. Na versão que aparece no disco "Anthology 3", McCartney ocasionalmente canta "hell for leather" ao invés de "helter skelter".