terça-feira, 27 de dezembro de 2016

AS DURAS CRÍTICAS AO MAGICAL MYSTERY TOUR

No dia 27 de dezembro de 1967, a mídia fez duras críticas ao filme “Magical Mystery Tour”. Veem com maus olhos a exibiçãoem preto-e-branco da BBC-TV e o enredo peculiar criado pelos Beatles. Paul foi entrevistado por David Frost. O que a gente confere aqui, é um trecho do livro “Paul McCartney – Uma Vida” de Peter Ames Carlin – 2009.Ray Connolly começou a telefonar para a casa de Paul no final da manhã do dia 27 de dezembro. Magical Mystery Tour tinha ido ao ar na BBC. na noite anterior, as resenhas estavam nos jornais matinais e o repórter do Evening Post andava atrás de um comentário. Mas o único McCartney acordado na casa era Jim, que tinha vindo de Liverpool para uma visita. Paul estava dormindo, a noite anterior fora agitada, Será que Ray poderia ligar de novo dentro de meia hora? Sim, poderia. Ele ligou três vezes, até que o velho McCartney decidisse que o filho astro do rock precisava acordar para encarar o dia e atender o telefone."Vou lhe dizer. Ray ", Jim falou, como o cavalheiro nortista de sem­pre. "Deus abençoa os persistentes. Vou acordá-lo."Jim baixou o aparelho e subiu as escadas. Por fim, Paul veio se arrastando até o telefone e Connolly lhe disse o que pretendia: as rese­nhas de Magical Mystery Tbur, ele as tinha visto? O que achou? Paul não tinha notícias daquilo. O pai lhe estendeu o maço de jornais, Connoll podia ouvir o farfalhar das folhas. Daí, silêncio. Depois... "Puta que pariu!”Isso era um modo suave de dizê-lo, tendo em vista o que estava escrito. Eis o que disse o Daily Mail: “Estarrecedor!” O Daily Mirror: "Besteira! Bobagem! Tolice!" O Daily Express: "Quanto maior a altura, maior o tombo." Embora o Times tenha optado por uma abordagem mais comedida» observando a "anarquia bem-humorada" e a forma "como as realidades são aniquiladas pelos mecanismos climáticos", o crítico, Henry Raynor, ainda observou que as tentativas filme de parecer vanguardista não eram "exatamente novas". Na hora em que o crítico de TV do programa Evening News avaliou as reações daquela tarde, a conclusão pareceu inescapável: “A mágica era praticamente inexistente e o único mistério a desvendar era como a BBC havia com­prado aquilo.”De fato, o verdadeiro mistério era como o filme doméstico psicodélico dos Beatles, com enredo meramente esboçado, diálogo impro­visado e sequências musicais surreais, chegou a ser exibido na TV nacional, no dia seguinte ao Natal (Boxing Day, na Grã-Bretanha, da­ta tradicionalmente dedicada a reuniões familiares aconchegantes e festividades pós-feriado), numa transmissão em preto e branco que transformou seus momentos abstratos coloridos em algo próximo de uma nódoa turva. Sem dúvida, as sequências de sonho — em espe­cial, a parte levemente sádica de John, na qual ele faz o papel de um garçom sinistro que serve uma montanha de espaguete a uma mulher obesa cada vez mais aborrecida — eram misteriosas, e a longa cena que justapunha os quatro magos celestiais (os Beatles, é claro) a uma corrida louca e inexplicável não fazia nenhum sentido. Ainda assim, às vésperas do século XXI, Magical Mystery Tour talvez pareça um pouco menos ridículo. Seu humor surreal antecipou o gênero de palhaçadas do Circo Voador de Monty Python (embora sem o senso de narrativa acurado do grupo), e suas vinhetas musicais bem encenadas viriam a ser incansavelmente imitadas na MTV, nos anos 1980.Todavia, após quase cinco anos de aclamação ininterrupta da mí­dia britânica, a bateria de críticas dirigidas a Magical Mystery Tour se assemelhou a uma antevisão. Agora que os Beatles tinham declarado sua independência, agora que não seriam mais os querídinhos de nin­guém, não voltariam a ser tratados como um tesouro nacional. Em­bora para Paul tenha sido um despertar brusco (literalmente, graças ao telefonema de Connolly), ele passou o resto daquele dia tentando aguentar o castigo como homem. "Não temos direito a um fracas­so?", ele perguntou numa entrevista. “A lição foi boa para nós, e não estamos amargurados com isso." Mesmo assim, ele botou uma nota defensiva no Times: "Não pensamos em subestimar as pessoas e ten­tamos fazer algo novo. É melhor ser polêmico do que chato." Ao apa­recer no programa de entrevistas de David Frost, naquela noite, Paul respondeu a perguntas do entrevistador e da audiência. "Não havia propósito nem intuito", ele disse, ao tentar explicar o filme. Quando Frost pediu ao público que informasse se havia gostado do filme, Paul apontou para as esparsas mãos levantadas e falou: "São poucas, sabe. Eu acho que está bem. O próximo vai ser bem melhor."Paul tinha certeza de que haveria outro. "Ele realmente esperava que Magicai Mystery Tour lhe abrisse as portas, transformando-o no pro­dutor cinematográfico dos Beatles", afirma Tony Barrow, o assessor de imprensa da NEMS que esteve presente ao encontro do dia 1º de setembro, na casa de Paul, e acompanhou as estratégias dele para fil­magem, nos meses seguintes. Presumindo que a banda não voltaria a fazer novos shows, eles precisavam se conectar de outras maneiras com o público. O cinema, como Paul pressentiu, era a resposta óbvia. “Ele queria que eles começassem uma fase inteiramente nova em suas carreiras", continua Barrow. "Mas em seus próprios termos. Ele seria o produtor executivo."O fracasso de Magicai Mystery Tour reduziu o fôlego dessa estraté­gia. Os outros Beatles não se importaram com o malogro crítico do filme — John tirou uma satisfação especial do fato de ter confundido e enfurecido tantas pessoas — e também não fizeram caso de ver a autoestima de Paul se reduzir um pouquinho.

3 comentários:

Marcelennon disse...

Os críticos daquela época,se é que estão vivos, devem querer chutar seus próprios traseiros, quando percebem onde a qualidade da música e da arte tem ido parar...

João Carlos disse...

Nessa época eles estavam tentando tudo e principalmente arriscando, ousando. Pagaram o preço. Mas fizeram um discaço.

Valdir Junior disse...

MMT é um filme desse período dos 60's.É legalzinho, mas é um tipico filme de estudante de cinema. Seria querer demais que os Beatles fossem, grandes cineastas e roteiristas, alem de grandes músicos, com esse filme. Mas criticas a parte, as cenas com as musicas, são de longe a melhor parte, principalmente, "I Am the Walrus" e " The Fool and the Hill".