Um julgamento controverso, um processo cheio de pistas inconsistentes, tudo isto norteou o caso James Hanratty e o assassinato da rodovia A-6 (Bedford Road), que atraiu a atenção de John & Yoko e os levou a assumir a causa em uma campanha pública. James Hanratty foi o último cidadão britânico condenado a ser julgado e executado e atraiu muitos simpatizantes pela causa de sua absolvição e mais tarde, pela tentativa de reconhecimento por parte da justiça inglesa, de sua inocência. James Hanratty jamais conseguiu provar sua inocência e foi condenado à forca. A família de James, principalmente seus pais, tentou reverter a decisão do juiz Gorman através do Tribunal de Recursos e do Secretário de Estado, Lord Rob Butler; porém todos os recursos mostraram-se inúteis. James foi enforcado aos 25 anos de idade na prisão de Bedford em 04 de abril de 1962 às 20 horas. No dia da execução, cerca de duzentas pessoas estavam do lado de fora, sendo que três estudantes universitários de Oxford protestaram por oito horas com faixas escritas: “Acabem com o assassinato legalizado”; “Não aos enforcamentos”; “Enforcar não é a solução”. Não se postou nenhum aviso nos portões, mas às 20:30 hs, a polícia começou a dispersar a multidão. Uma das pessoas depositou um ramo de flores na entrada da prisão com um cartão escrito: “Estas flores são para James Hanratty que, como Evans e Bentley foram assassinados pelo nosso Estado que se diz civilizado”. A luta para limpar o nome de Hanratty começou quase que imediatamente. Quase uma dúzia de testemunhas compareceu para tentar provar que no momento do crime, James estaria situado a noroeste da rodovia A-6. A família Hanratty argumentou que a polícia não foi nem um pouco diligente na verificação do segundo álibi e tentou processar o Lorde Butler por descumprimento do dever público em 1970, mas o processo não foi acolhido pela justiça. Para piorar a situação, três anos antes, em 1967, Peter Alphon deu uma entrevista coletiva em Paris, onde confessou publicamente ser o assassino da rodovia A-6. Posteriormente o mesmo Alphon retificou sua declaração e se isentou do caso. Depois surgiu uma carta anônima enviada ao editor do Yorkshire Evening News, em Leeds, assumindo a culpa pelo crime e inocentando Hanratty. Nesta mesma carta, o autor se responsabilizava por mais um crime ocorrido na rodovia A-9. Em 1969, o pai de James, que reconhecidamente era um homem decente, continuou protestando pela inocência de seu filho e organizou vigílias na frente do Parlamento britânico e começou a recolher assinaturas de simpatizantes. No final do ano, extremamente desgastado pela resistência do poder judiciário e da polícia, já sem muita publicidade na imprensa, resolveu recorrer ao casal John & Yoko, que após tomarem conhecimento dos álibis e das inconsistências das provas apresentadas, decidiram dar apoio integral à família Hanratty.
John e Yoko adotaram o slogan “Britain murdered Hanratty” (A Grã-Bretanha assassinou Hanratty) e em dezembro, através de press release da Apple, anunciou que pretendiam realizar um filme sobre o caso da rodovia A-6.
No avant-premiére do filme Magic Christian, onde atuam Ringo & Peter Sellers, John e Yoko chegaram numa limusine decorada com uma grande faixa pintada com o slogan sobre Hanratty. Pararam propositadamente atrás do carro real que estava transportando a princesa Margaret e seu marido e fizeram a festa para os fotógrafos presentes.
Três dias depois, no dia 14 de dezembro, o pai de James compareceu ao Speaker’s Corner no Hyde Park, pedindo uma investigação pública sobre a condenação do filho. No chão, havia um saco branco, que se contorcia e tinha o sentido de fazer um protesto silencioso por James Hanratty. Obviamente, no saco estavam John e Yoko.
No show no salão de bailes do Lyceum em Londres, John reuniu George Harrison, Eric Clapton, Delaney e Bonnie, Billy Preston e Keith Moon, dentre outros. Yoko começou o espetáculo dentro de um saco branco, de onde saiu para cantar “Don’t Worry Kyoko”, iniciando com “Britain, you killed Hanratty you murderer!” e pontuada por gritos do famoso slogan “Britain murdered Hanratty”. Esta seria a última apresentação de John na Inglaterra.
John conforme prometido, produziu um filme colorido com duração de 40 minutos sobre o caso Hanratty e o exibiu no dia 17 de fevereiro de 1972 na cripta da Igreja de St. Martin-in-the-Fields em Londres.
Quarenta anos depois do enforcamento de James, seu corpo foi exumado atendendo o apelo que a família Hanratty fez em 1999, para que obtivessem provas através do DNA comparando com pistas genéticas deixadas no lenço que envolveu o revólver calibre 38 e vestígios de esperma existentes nas roupas de Valerie Storie.
O resultado, surpreendentemente ratificava a culpa de James. Apesar do resultado adverso, a família continuou acreditando na inocência de James, já que havia a possibilidade de que as provas estivessem contaminadas, visto que na década de 60, não existia a técnica e o cuidado necessário de lidar com esses tipos de provas.
Neste vídeo clipe com uma entrevista de John e Yoko, ao fundo, pode-se ver o cartaz escrito com o slogan “Britain murdered Hanratty” de 1:37 a 2:39:
Fonte: The Beatles College
Um comentário:
Essa história é bem complicada.
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